Opinião: "Falares e Ditarenhos do Alentejo" de Luís Miguel Ricardo


Uma obra de recolha que reúne e guarda para memória futura os "falares" (vocábulos) e "ditarenhos" (sentenças) alentejanos. Sem esquecer a devida explicação e exemplos de aplicação dos mesmos. É reconfortante para um alentejano poder folhear o livro e encontrar ali as suas palavras de coração, que não costumam estar contempladas nos dicionários tradicionais. É também uma obra de consulta e aprendizagem, pois afinal o Alentejo é muito vasto e tem muito para nos dar a conhecer.

Opinião: "Hamster de Biblioteca" de Gonçalo Condeixa e Fernando Évora


Talvez não haja localidade sem os seus habitante icónicos, cheios de personalidades que as transformariam em personagens com as suas histórias. Mas nem todas as localidades têm a honra de possuir a biblioteca na sua colida mais alta, aquela normalmente destinada a um castelo. E, nem todas poderiam orgulhar-se de possuir estas histórias, que são no fundo as de cada um de nós, mas que refletem em si tantas outras histórias da humanidade e da sua literatura. Não bastasse tudo isto e o livro ainda nos oferece desenhos fantásticaós, quais sombras chinesas, a nos fazer ir mais além em cada uma das histórias que lemos.
Um livro pequeno e intenso, para ler, reler e descobrir novas leituras, ou um espelho que reflita a nossa face. Um livro de culto.

Opinião: "Gafas de cerca" de Mario Rodriguez

Entra-se logo com um poema arrebatador, que se não fosse castelhano seria sobre saudade. A leitura prossegue, umas vezes mais fácil do que outras por causa da questão do idioma.
Fala-nos da memória que guarda das mulheres que lhe são referência, e que referencia: a mãe e a avó. O amor, misturado com respeito, a descrição do seu lugar no mundo, que é no seio delas, sem que isso o esmague ou o impeça de viver.
Disse-me o Fernando Évora: "de Espanha vem o Mario Rodriguez. Conheci-o em Beja, no encontro do Saramago. Achei-o simpático e acessível. Mas quando li os poemas dele: é fabuloso." Já não sou a única a pensar assim.

Opinião: "Flores" de Afonso Cruz


Livro adquirido por mim

Um livro cujas palavras são de pura poesia, numa narrativa pós-moderna de encontros e desencontros, de fios perdidos e outros encontrados. Podia ser um livro perfeito, mas faltou-lhe o encanto habitual em Afonso Cruz, e talvez por isso tenha ficado um pouco desiludida.

Opinião: "Esquecidos" de Rute Canhoto


Como já tinha lido o "Perdidos" não poderia deixar de ler o "Esquecidos".
Gostei mais deste volume do que do anterior. Vê-se uma grande evolução e maturidade na escrita da Rute. As referências são feitas com termo e medida, as descrições da roupa são feitas quando fazem sentido e são importantes para a narrativa. A narrativa também se desenvolve de um modo linear, numa espiral de acontecimentos até ao climax, sem que no entanto a resolução seja apresentada: porque ficará para o próximo volume. E isto não é fácil de construir.
"Marina", a personagem principal está muito mais activa e resoluta, e apesar de ter momentos em que fica em baixo (nem seria normal não ficar, com tudo aquilo e 18 aninhos acabados de fazer), cria hipóteses de resolução com as suas próprias mãos. O "Lucas" não teve tanto protagonismo desta vez, mas não perdeu o mistério.

Para saber mais sobre o livro visite a sua página no Goodreads.

"Jazigo com vista para o mar" de João Carlos Pereira


Um livro excelente, que mereceu o prémio atribuído. Estamos perante uma narrativa fraccionada, com muitos pontos de vista, que aos poucos se vão unindo em pontos em comum. A narrativa fraccionada permite concentrarmo-nos no essencial e imaginar o supérfluo.
Contudo, o que mais me fascinou nesta obra é a crítica, toldada na ficção, à sociedade portuguesa, e em especial, à política. O autor fala como ainda não vi nenhum falar da actualidade portuguesa: certeiro, sem tabus, sem medos.
À parte disto a obra tem ainda breves momentos de fantástico, mais propriamente de realismo maravilhoso, que são dos momentos mais carinhosos de todo o livro.

Para mais informação: Chiado Editora

Opinião: "O amor infinito que te tenho e outras histórias" de Paulo Monteiro


Este livro foi adquirido pela autora deste blog.

Título: O Amor Infinito que te tenho e outras histórias
Autor: Paulo Monteiro
Editora: Polvo
Ano de Edição: 2014 (1ª edição de 2010)
Nº de páginas: 64
ISBN: 978-989-95180-7-0
Depósito Legal: 376099/14

Opinião:
Um modo diferente de ler micro-narrativas: em banda desenhada. O que faz deste livro uma obra ímpar, que nos permite uma versão-desenhada sobre a realidade, sobre as vivências autobiográficas do autor. As minhas preferidas foram "A tua geração acabou", que para mim serviu de explicação para a origem da sovinice dos velhos e a sua obsessão pelas memórias de tempos ruins, numa perspectiva de muito afecto por aparte do autor; "Para lá dos Montes", que me tocou em especial pelo chamamento do mundo, que, quem sabe, nos agarre ao mar de seara e não nos deixe sair daqui. Ou a culpa será do horizonte infinito?

Sinopse:
Este é o primeiro livro de banda desenhada de Paulo Monteiro. Reúne um conjunto de histórias curtas efectuadas entre 2005 e 2010 e mostra de forma clara e concisa o percurso de maturação de um autor que vive intensamente as histórias que conta e desenha.
Já se tornou, com toda a justiça, no livro mais traduzido de sempre da BD portuguesa.
A 3ª edição inclui, como novidade, um álbum de fotografias do autor.

Distinções:
- Melhor Álbum Nacional, atribuído pelo Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, em 2011.
- Melhor Publicação Independente, atribuído pela Central Comics, em 2011. - Prix Sheriff d’Or (França), em 2013.

Autor:
Paulo Monteiro nasceu em Vila Nova de Gaia, em 1967. A partir dos 13 anos fez várias exposições de ilustração, ilustrou fanzines de poesia e desenhou cartazes e murais. Pós-graduou-se em História de Arte em 1993, ano em que foi viver para Beja.
Teve (e tem) interesses e ocupações muito diversas: escreveu para a rádio e para os jornais, passou filmes de terra em terra, compôs canções, tocou guitarra em lares, trabalhou nas vindimas, foi professor de Ciências da Natureza e de Geografia, foi agente de campo em muitas vilas e cidades, realizou ateliês de azulejaria, banda desenhada e ilustração, participou em escavações arqueológicas, fez teatro de fantoches, teatro de sombras chinesas, cenografia e figurinos, comissariou dezenas de exposições em vários domínios…
Escreveu e editou 3 fanzines de poesia: Poemas, Poemas a andar de carro e Poemas Japoneses. A partir de 2005 passou a fazer a direcção da Bedeteca de Beja e do Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja. Tem percorrido o sul de Portugal para falar de banda desenhada nas escolas (já visitou perto de 80…).
Desde 2005 que se dedica exclusivamente à banda desenhada, como autor.
Fez várias dezenas de exposições de pintura, ilustração e banda desenhada, quase todas em Portugal, mas também em Espanha, França, Brasil, Polónia, Roménia e Itália.
Tem um filho, Manuel.