Opinião: "Stories do Alentejo" (coor. de Luis Miguel Ricardo)

Opinião:
O livro parte de uma ideia interessante: a de reunir autores do Alentejo para falar da sua própria região de modo a poder demonstrá-la aos visitantes. Torna-se assim quase que um testemunho, desde costumes e saberes do passado, a uma memória futura do que é hoje o Alentejo.

Não posso deixar de destacar dois contos, que foram os meus preferidos. "A doze léguas de Beja" de Vítor Encarnação, conto que nos fala do encanto e perdição de um estrangeiro por terras Alentejanas; "É como andar de pedalêra" de Luis Miguel Ricardo (o coordenador da obra), um conto perfeito de anti-heróis com quem simpatizamos pela sua genuinidade, e cujo fio narrativo se desenrola em espiral até ao final, sem nos deixar de saborear com as suas partes cómicas e dramáticas.

Destaco ainda os contos de Fernando Évora, Manuela Pina, José Teles Lacerda e de Dora Gago.

Os restantes contos, apesar da sua importância como testemunho e memória, não me encantaram, sobretudo por terem falhado no fio narrativo. Eram aglomerados de situações, de "partes" como dizemos aqui no Alentejo. Encontrei por vezes excesso de expressões populares e exagero na descrição da pronúncia das personagens.

Coordenador: Luís Miguel Ricardo
Autores: Antónia Luísa Silva, Dora Gago, Fernando Évora, Joaninha Duarte, José Teles Lacerda, Luís Miguel Ricardo, Manuela Pina, ;Maria Ana Ameixa, Maria Morais, Miguel Brito de Oliveira, Miguel Morais, Vítor Encarnação.
Editora: Lugar da Palavra


Teaser (sinopse)
Quando os aviões comerciais começaram a rasgar os céus da planície, Zé Aranha, guardador de gado e criador de sonhos, detetou a lacuna e arquitetou o plano de resgate ao desconhecimento dos forasteiros. Idealizou um manual de exploração de itinerários ao sul, imaginou um guia de promoção de saberes alentejanos e, com a inusitada colaboração do compadre Joaquim Zorro, fez nascer as Stories do Alentejo. Treze contos contados por contadores alentejanos, que nos conduzirão aos recônditos mais mágicos e às tradições mais genuínas do imenso Alentejo.

O Projeto
Stories do Alentejo é um projeto editorial (livro), inserido na valência de «Literatura de Viagens», que tem por principal objetivo a promoção do Alentejo (nas vertentes: paisagem natural, arquitetura, tradições, gastronomia, canto e falares) através da magia do conto contado por contadores alentejanos de reconhecido mérito.
São 12 autores e a cada um foi atribuída uma ou mais sub-regiões do Alentejo (de acordo com fatores de ordem motivacional, afetivo e de conhecimento territorial), sendo sua missão criar uma trama dentro desse espaço geográfico. Uma trama, que para além de possuir todos os ingredientes essenciais à narrativa ficcional, constitua também uma proposta cultural e turística para os leitores.
Os locais mais emblemáticos onde se desenvolvem as ações ficcionais estão identificados por coordenadas de GPS.

Os Liks
da página oficial: https://www.facebook.com/StoriesdoAlentejo
filme facebook: http://www.youtube.com/watch?v=SGkYmErHglY

Opinião: "De Coração d'Interiores" de Napoleão Mira





Napolão Mira trouxe à luz mais um livro de crónicas, primorosamente tratado, com uma capa admirável e um título que nos deixa fazer trocadilhos.

O registo dos textos é variável. Umas vezes pende mais para a crónica, outras vezes estamos perante autênticos contos. O cunho narrativo é muito forte, especialmente quando o autor narra acontecimentos da sua infância e juventude. Estes textos são os meus preferidos, como por exemplo “Tio Joaquim Algarvio”, “A magia do cante” ou “Drogaria Marçalo”.

Napoleão consegue transmitir-nos nas suas palavras as vivências de outros tempos sem ser num retrato a preto e branco: cores não nos faltam na fotografia, assim como movimento, luz, sol e vento. E claro, um copinho de vinho tinto e um naco de pão, cortado com uma navalha saída nas rifas.

A linguagem, como já disse noutra ocasião é clara, correcta, adequada às situações e pontilhada de expressões agridoces do nosso Alentejo, que também contribuem para o tempero destes textos.

Opinião: "Suão" de Vítor Encarnação




Ser-se escritor normalmente é um acto de solidão. Mas não é sempre um acto de solidão: quando não é, em lançamentos, encontros, almoços e que tais, conhecem-se pessoalmente pessoas que ouvimos falar, outras com quem contactamos online. Finalmente a realidade. Mesmo para mim que já sou das geração das tecnologias, é algo muito importante.
No dia do lançamento do livro “27 acrobacias sobre (quase) a mesma coisa, conheci Vitor Encarnação, autor com alguns trabalhos publicados e muitos textos saídos no Diário do Alentejo. Trocámos cromos, se assim lhes podemos chamar.
“Suão” foi o cromo com que fiquei. Um livro pequeno, de um só conto, que foi “Prémio Casa do Alentejo 2011”. Um conto que fala dos outros tempos, em que a vida não era fácil nem para brincadeiras, mas onde havia muita amizade e muita luz. Um conto que fala da luta que todos fizeram para dias melhores, e que todos continuamos a fazer apesar dos tempos tão diferentes. Um conto que também fala de saudade e de legado às gerações mais novas. Um conto para ler, claro!

Opinião: "Verão 86" de Luís Miguel Ricardo


"Verão 86" de Luís Miguel Ricardo é um livro que se devora. A cada página encontramos ecos da infância e juventude dos anos 80, que nos permitem sonhar e recordar a vivência especial desta época por um grupo de rapazes num contexto muito específico: uma aldeia do Alentejo. O facto do universo ser masculino, e das vivências rurais dessa época, o livro consegue trazer reminiscências a todos os que foram jovens naquela época, mesmo que em contextos diferentes.
Senti neste livro um grande carinho ao mesmo tempo que uma grande violência. Aqueles rapazes, que afinal não eram maus rapazes, cresciam na rua quase que selvagens. Na verdade, eram amigos uns dos outros, e as suas partidas, às vezes com consequências graves, não eram feitas pensando no resultado final. Eram apenas um modo de sobrevivência.