Opinião: "Esquecidos" de Rute Canhoto


Como já tinha lido o "Perdidos" não poderia deixar de ler o "Esquecidos".
Gostei mais deste volume do que do anterior. Vê-se uma grande evolução e maturidade na escrita da Rute. As referências são feitas com termo e medida, as descrições da roupa são feitas quando fazem sentido e são importantes para a narrativa. A narrativa também se desenvolve de um modo linear, numa espiral de acontecimentos até ao climax, sem que no entanto a resolução seja apresentada: porque ficará para o próximo volume. E isto não é fácil de construir.
"Marina", a personagem principal está muito mais activa e resoluta, e apesar de ter momentos em que fica em baixo (nem seria normal não ficar, com tudo aquilo e 18 aninhos acabados de fazer), cria hipóteses de resolução com as suas próprias mãos. O "Lucas" não teve tanto protagonismo desta vez, mas não perdeu o mistério.

Para saber mais sobre o livro visite a sua página no Goodreads.

"Jazigo com vista para o mar" de João Carlos Pereira


Um livro excelente, que mereceu o prémio atribuído. Estamos perante uma narrativa fraccionada, com muitos pontos de vista, que aos poucos se vão unindo em pontos em comum. A narrativa fraccionada permite concentrarmo-nos no essencial e imaginar o supérfluo.
Contudo, o que mais me fascinou nesta obra é a crítica, toldada na ficção, à sociedade portuguesa, e em especial, à política. O autor fala como ainda não vi nenhum falar da actualidade portuguesa: certeiro, sem tabus, sem medos.
À parte disto a obra tem ainda breves momentos de fantástico, mais propriamente de realismo maravilhoso, que são dos momentos mais carinhosos de todo o livro.

Para mais informação: Chiado Editora

Opinião: "O amor infinito que te tenho e outras histórias" de Paulo Monteiro


Este livro foi adquirido pela autora deste blog.

Título: O Amor Infinito que te tenho e outras histórias
Autor: Paulo Monteiro
Editora: Polvo
Ano de Edição: 2014 (1ª edição de 2010)
Nº de páginas: 64
ISBN: 978-989-95180-7-0
Depósito Legal: 376099/14

Opinião:
Um modo diferente de ler micro-narrativas: em banda desenhada. O que faz deste livro uma obra ímpar, que nos permite uma versão-desenhada sobre a realidade, sobre as vivências autobiográficas do autor. As minhas preferidas foram "A tua geração acabou", que para mim serviu de explicação para a origem da sovinice dos velhos e a sua obsessão pelas memórias de tempos ruins, numa perspectiva de muito afecto por aparte do autor; "Para lá dos Montes", que me tocou em especial pelo chamamento do mundo, que, quem sabe, nos agarre ao mar de seara e não nos deixe sair daqui. Ou a culpa será do horizonte infinito?

Sinopse:
Este é o primeiro livro de banda desenhada de Paulo Monteiro. Reúne um conjunto de histórias curtas efectuadas entre 2005 e 2010 e mostra de forma clara e concisa o percurso de maturação de um autor que vive intensamente as histórias que conta e desenha.
Já se tornou, com toda a justiça, no livro mais traduzido de sempre da BD portuguesa.
A 3ª edição inclui, como novidade, um álbum de fotografias do autor.

Distinções:
- Melhor Álbum Nacional, atribuído pelo Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, em 2011.
- Melhor Publicação Independente, atribuído pela Central Comics, em 2011. - Prix Sheriff d’Or (França), em 2013.

Autor:
Paulo Monteiro nasceu em Vila Nova de Gaia, em 1967. A partir dos 13 anos fez várias exposições de ilustração, ilustrou fanzines de poesia e desenhou cartazes e murais. Pós-graduou-se em História de Arte em 1993, ano em que foi viver para Beja.
Teve (e tem) interesses e ocupações muito diversas: escreveu para a rádio e para os jornais, passou filmes de terra em terra, compôs canções, tocou guitarra em lares, trabalhou nas vindimas, foi professor de Ciências da Natureza e de Geografia, foi agente de campo em muitas vilas e cidades, realizou ateliês de azulejaria, banda desenhada e ilustração, participou em escavações arqueológicas, fez teatro de fantoches, teatro de sombras chinesas, cenografia e figurinos, comissariou dezenas de exposições em vários domínios…
Escreveu e editou 3 fanzines de poesia: Poemas, Poemas a andar de carro e Poemas Japoneses. A partir de 2005 passou a fazer a direcção da Bedeteca de Beja e do Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja. Tem percorrido o sul de Portugal para falar de banda desenhada nas escolas (já visitou perto de 80…).
Desde 2005 que se dedica exclusivamente à banda desenhada, como autor.
Fez várias dezenas de exposições de pintura, ilustração e banda desenhada, quase todas em Portugal, mas também em Espanha, França, Brasil, Polónia, Roménia e Itália.
Tem um filho, Manuel.

A CAMINHADA – NELSON TEIXEIRA – OPINIÃO



Numa outra época, um simples pastor é encaminhado para a demanda e aventura por uma série de acontecimentos que não controla, despoletados por um sonho, cuja narrativa não soube guardar para si.
O enredo desta obra mostra-se muito interessante: personagens, enquadramento histórico, peripécias. Contudo, a escrito do autor, por vezes, não consegue atingir o nível de qualidade que toda a envolvência que o escritor criou exigia. A obra, com muito potencial, tinha necessitado de uma leitura final mais cuidada.

O autor é um nome a ter em conta em futuros trabalhos que apresentar.

Para mais informação sobre a obra siga o link das Edições Vieira da Silva.

Esta leitura foi feita em parceria com as Edições Vieira da Silva

Opinião: Fado, de Napoleão Mira


É um livro interessante do ponto de vista da narrativa, essencialmente no início do livros em que nos conta a aventura de um jovem casal que emigra "a salto".
Contudo, é um livro que contém muitos lugares comuns. Talvez por isso seja confortável lê-lo e a leitura seja feita num rompante (no meu caso foi). Mas faltou-lhe aquela pimenta do incómodo. E parece-me que o romance tinha potencial para isso.
O grande defeito, da minha parte, foi um uso excessivo de sinonímia do livro (em especial nos primeiros 2/3 capítulos), que acabou por misturar linguagem culta com expressões populares. Gostava de ter visto este equilíbrio feito de outro modo, que poderia ter sucedido se este recurso tivesse em vista opor a linguagem descritiva/narrativa dos diálogos.
Sei que estou a ser um pouquinho "dura" na crítica quando gostei muito do livro. Fala de assuntos que muitas vezes queremos esquecer. De como o passado recente foi difícil, e nos incomoda no nosso conforto diário, que parece ser tão distante destes tempos, quando não o é. E acontecimentos como estes aqui retratados não deveriam ser esquecidos, mesmo que nos estejam expostos em termos de ficção. Especialmente nos dias de hoje, e como as coisas estão.